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Metódo científico para investigação de fenômenos paranormais
Publicado em: 21 de fevereiro de 2008, 17:19:49  -  Lido 5930 vez(es)



> Mac: Como todos nós, os cientistas têm suas crenças pessoais, Yker.
> Alguns deles são materialistas, outro apenas agnósticos, outros
> ainda são religiosos (cristãos, espíritas, etc). Mas se a gente
> quiser ver a posição não dos cientistas, mas da Ciência, então
> podemos dizer que ela é agnóstica. Ou seja, se há Deus, se há vida
> depois da morte, "não sabemos". Isto traz um certo cetismo, mas é
> uma posição coerente com o método científico.

 

Além da questão de ciência X cientista e credos pessoais, com a qual concordo com o Mac, há também uma outra coisa distinta, o *método* científico. E há mais de uma visão dele, e não apenas a que desacredita até uma sempre temporária "confirmação" baseada no que é tangível à percepção atual.

 

Uma coisa parece certa: O científico de hoje é sempre o que ontem era místico (aos olhos dos radicais da matéria) ou herético (aos olhos dos radicais do espírito). Embora nem todo misticismo e heresia de ontem tornem-se a ciência de hoje.

 

Isso me leva a ser um pouco cético para com o ceticismo. Ciência é mais a busca do futuro do que o compêndio do passado. Ciência implica admitir que não sabemos tudo, e que há o que se pesquisar.

 

A partir da observação estatística da realidade psíquica e de suas sincronicidades, Carl Jung propôs à comunidade científica a criação de um novo método para-consistente, para investigar a ocorrência de fenômenos "acausais". Ou seja, chamar de científico apenas o que pode ser reproduzido por de variáveis "causais" conhecidas fez de nós peixes que negam a existência de tudo que não tenha começo e fim nos limites nadáveis de nosso oceano. Mesmo que estejam sendo relatados e ocorrendo à nossa volta, como, por exemplo, os anzóis.

 

Não estou dizendo para retomarmos a crendice desarrazoada de tempos medievais, tentando distorcer os fatos e a lógica para que se adequem aos nossos credos iniciais; mas sim dispensarmos ao "duvidar" (inclusive o científico) pelo menos a mesma cautela com o qual tratamos o "crer".

É fato que há muitos "crédulos" nas saídas do corpo, e que "torcem" por elas para que seu paradigma espiritualista seja aceito. Entretanto, há também muitos que simplesmente as tem, sejam elas o que forem. Eu, muitos de vocês, ateus, hindus, cientistas, filósofos ou cristãos. Alguma coisa, "é", e como tal poderia ser melhor  investigada. Não aceita previamente, mas tampouco negada.

 

Prefiro pensar que "se nada existisse, nada existiria". Em havendo, há o que se questionar e investigar. Temos por hábito confirmamos como "real" o que nos é próximo, ainda que haja dúvidas embasadas quanto a isso; e desprezamos como inexistente o que nos é distante (ainda que as galáxias e partículas existam independente de nossa avaliação). Por exclusão, só podemos perder tempo chamando de "crença" aquilo que nem tocamos nem ignoramos, ou seja, aquilo que JÁ está latente, fato empírico nas fronteiras do tangível, aguardando de nós uma melhor investigação e classificação.

 

Mas o que vejo são adeptos do paradigma cognitivo-comportamental tentando usar neurociências para desconstruir tudo apenas pela localização da área do cérebro envolvida em cada experiência - como se descobrir em que endereço físico de memória está esta minha frase provassem a inexistência de mim, da internet e do Yahoo. Isso não é ciência do Todo, limitando-se apenas ao que Wilber chama de "O Olho do Fìsico". É uma visão, materialista, mas quem parte do empirismo pode chegar a outra conclusão.

 

Por fim, não concordo que estes fenômenos relatados sejam "sobrenaturais", uma vez que tudo é natural, como sempre foi no universo, embora algumas coisas sejam de uma natureza tal que ainda não nos seja plenamente conhecida.

 

Tampouco as chamo de experiências "espirituais", uma vez que este conceito não se refere a algo se dar ou não na matéria tangível, e sim a um estado de consciência e compreensão da realidade que se vive em qualquer lugar.

 

Sequer podemos dizer que sejam para-normais, uma vez que - seja lá o que forem - há relatos de sua ocorrência dentro da normalidade estatística de todos os povos, credos, épocas e classes sociais.

 

Não podemos nem dizer que são "criados pela fé", como se esta fosse uma instância inverídica isolada do homem e seu conhecimento, uma vez que se em todos os tempos e culturas o homem sempre criou alguma de tentativa de explicação de contato com o transcendente, mesmo em tribos de ilhas isoladas, precisamos entender que, gostem disso ou não os céticos, o caráter transcendente e a tentativa intuida de contato com um "mundo das idéias" ou realidade maior coletiva é uma *característica inata* da espécie humana (!), tão vital como o que faz outros animais nascerem com determinado aprendizado ou senso de direção.

 

Logo, o argumento puramente cético ou descrente que se tenta dizer científico fundamenta-se, no máximo, na possibilidade do relatante estar faltando com a verdade, para sustentar seus credos de antemão. Pelo bom senso, é pouco provável, uma vez que tratam-se de incontáveis relatos de várias épocas, com alto grau de coincidência, diferentes graus de respeitabilidade, classe social e cultural, inclusive havendo os dissociados de religião, ou dos que só passaram a ter alguma "crença" a partir desta observação.

 

Logo, um fato a ser investigado, há. E em assim sendo, ter para com isso uma postura de abertura discernida para com o novo é científico, ainda que venha previsivelmente do campo dos ditos "homens da fé"; enquanto que, paradoxalmente, ancorar-se nos textos já estabelecidos para evitar a mudança do pensamento vigente, como se fossem o testamento de uma verdade final, é postura dogmática, ainda que venha do conservadorismo acadêmico de alguns.

 

Em um mundo onde a antítese científico materialista tenha assumido a responsabilidade de nos explicar o universo, em substituição aos que antes faziam o mesmo em nome de "Deus"; mantendo-se o método temos os mesmos papéis, ainda que invertidos, e céticos científico sacerdotais não raro excomungam do terreno da verdade os hereges que relatam ter observado que talvez giremos em volta de Deus e não o contrário, ainda que nem sempre isso seja visível a "espírito nu".

 

 

Lázaro Freire
http://www.voadores.com.br/lazaro

 

 

 

"Qualquer verdade passa por três estágios: Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente combatida. Terceiro, é aceita como óbvia e evidente." (Schopenhouer, filósofo alemâo)

 

"Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência." (ídem)

 

 

 


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Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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