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Má Temática da Vida 3
Publicado em: 19 de março de 2007, 15:10:51  -  Lido 5930 vez(es)



A MÁ TEMÁTICA DA VIDA (3)

Por Lázaro Freire

"It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die.
The world will always welcome lovers
As time goes by"

E novamente é Natal, lá vem as mesmas canções. Mas, enfim, dois textos depois, porque os anos ainda insistem em passar cada vez mais depressa? As explicações definitivas se fazem necessárias e urgentes. Até porque, se não notou, isto é uma trilogia.

Modernismos, esoterismos e sociologias à parte, a sensação do tempo estar se encurtando a cada ano já existia há séculos. E naquela época, tinha mais a ver com a matemática do que com mudanças vibracionais. Vamos aos números:

Quando eramos crianças, demorava muito para chegar o tal "ano que vem". Nada mais natural: Aos 7 anos de idade, só me lembrava de fatos a partir dos 4 ou 5 anos de idade. Toda minha então longa experiência de vida havia durado 3 anos. Um ano a mais significava um acréscimo de 33% bruto - e muito mais em termo de conteúdo e descoberta, já que os conhecimentos eram progressivos, como se houvesse, ainda por cima, um "fator multiplicador". Em termos de significado, um ano parecia uma vida. E era pelo menos 1/3 dela.

Com 10-12 anos, saindo do primário, descobrindo o corpo na pré-adolescência, a vida social, os livros, o mundo - e a janela do banheiro da vizinha - eram, ainda assim, apenas 5 a 7 anos de experiencia. Acrescentar 1 eram mais 20%, mas... QUE 20%!!! E que vizinha! Matérias, professor, vizinha, canetas, roupas da moda, vizinha, música, festas... Os 20% eram literalmente outros 100%. Havia um grande aproveitamento do tempo. Isto compensava o longo tempo desperdiçado no banheiro.

Mais à frente, saindo da adolescência, os anos de descobertas intensas já são significativos na bagagem de vida - e as mudanças, se ainda existem, se tornaram um padrão, e não mais uma revolução na vida infantil.

Com 20 anos de vida, 15 documentados, um ano mais representa seus 5 a 8% de acréscimo. Sem multiplicadores. É mais um ano, com seus novos rostos e responsabilidades. Ainda significativo, mas nesta fase todos começam a sentir que os anos "ficaram mais rápidos".

Com 35, já na rotina, casado ou descasado, precisando acordar todo dia, pegar transito, trabalhar, almoçar, trabalhar, pegar trânsito, comer, transar, dormir, acordar - e procurar um significado (espiritual, amoroso, lazer, etc) para o (pouco) tempo que resta, nosso ritmo de mudanças é outro. Já não nos interessamos mais pelas mesmas coisas. Nem pela mesma vizinha que, inconveniente, responde 15 anos e quilos depois ao nosso antigo chamado, definitivamente sem o mesmo sex-appeal.

E assim, até o km de estrada em que cheguei, boa parte do tempo é desperdiçado pela rotina, que nos cobra caro - em tempo que gastamos e novidades que não podemos viver - o aluguel de estarmos vivos na Terra. Tivessemos nós 10% de tempo para adquirir novas experiencias, se submetidos à rotina aproveitariamos apenas 1% deles, infelizmente.

Os novos anos diminuem em proporcionalidade, e, aos 35 de vida, 30 de lembrança, 15 de rotina, 1 ano significa apenas 1 ano - ou menos que isso. Aproveitamos menos em experiências, e mais em sabedoria. A prudência nos impede de vivermos situações indesejaveis, involutivas, que não vão dar em nada, que terminam todas da mesma forma - mas que, confesso, eram deliciosas.

O multiplicador se torna divisor. A terapia ocupacional de viver faz com que os dias se assemelhem, e já é Natal outra vez. As situações novas, para muitos, são repetições de antigas, em novos rostos e lugares. Especialmente para quem não se renovou - ou resolveu. Um ano a mais representa matematicamente menos, e precisariamos viver uma ou mais dezenas deles para ter a sensação da juventude que passou. E que não volta nesta encadernação.

Naturalmente, o tempo que aos 20 parecia passar um pouco mais rápido ("nossa, ESSE ano passou tão rápido PRA MIM") aos 30 vira uma espécie de certeza ("pra vc também esse ano foi rápido como para mim?"), e aos 40 transforma-se numa quase-filosofia (os anos estão passando mais rápido hoje em dia).

Vamos precisar de mais uma década para que a ficha caia: Os anos passam igual, mas nós estamos passando por eles de forma diferente.

Até por isso, precisamos compreender melhor "quanto tempo há no tempo", e como é importante poder extrair, de cada segundo possível, o máximo de vida, amizade, experiência e amor.

Talvez precisassemos todos cozinhar mais, para compreendermos a infinidade de coisas que pode ser feita em 3, 10 ou 20 minutos.

A dura conclusão é que os anos passam mais rápido para todos, na razão direta em que, rapidamente, passamos pelos anos. Na próxima vez que sentir que o Natal chegou muito depressa, matematicamente isso possui um só significado:

Você está ficando velho, amigo. Só isso. Mas ainda há tempo de não deixar a rotina lhe envelhecer também o coração. De se resolver, de se renovar, de recontratar o prazer de viver.

É por isso que - há tempos - procuro viver melhor e com mais tempo cada tempo que o tempo tem.

As time goes by.

Lázaro Freire

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Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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