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Assombrando as Trevas - Trabalho de Sombras X Culto ao Trevoso
Publicado em: 14 de novembro de 2006, 19:32:20  -  Lido 5968 vez(es)



SOMBRA, na psicologia analítica, é um belo conceito relacionado ao
inconsciente. Presente também em grupos ocultistas sérios, há várias
analogias com aquilo que tentamos negar em nós. Sua compreensão
também é fundamental para uma boa interpretação das mensagens
presentes nos sonhos.

Porém, mesmo como metáfora, não podemos confundir esta sombra
(junguiana ou iniciática) com trevas (conscienciais). Sombra, no
contexto Junguiano, é um conceito, um arquétipo do inconsciente. Não
justifica as desculpas para diversos atos trevosos ou "cultos" de
baixíssima sintonia, que muitos (pseudo) ocultistas dão.

Na cultura pop, há um bom exemplo deste conceito: A metáfora do
Smith, sombra junguiana do Neo do filme Matrix. Combatido em vão, ele
se multiplica, ao mesmo tempo em que Neo não compreende a sinceridade
da sombra que diz ser ele mesmo. Enquanto não compreendido e
incorporado, é enfrentado de forma dolorosa, podendo até contaminar
toda a representação interior.

Na verdade, como ocorre com qualquer presença arquetípica, inerente
ao inconsciente humano, o conceito está presente em várias outras
obras. Em Peter Pan, ela se destaca da personalidade aparente, e
precisa ser integrada, recosturada. E no clássico O Médico e o
Monstro, a Sombra é a temática central.

E o próprio mito de Diabo, Lúcifer ou Satanás dos cristãos, na
verdade não passa da cristalização em um ser semi-angelical da
própria sombra psíquica da sociedade medieval. Um ícone de tudo
aquilo que já traziamos em nós, mas preferiamos, devido a
aculturação, mantermos tão longe quanto isolável, embora tão perto
quanto "controlável". Daí a necessidade de evangélicos falarem mais
da sombra diabólica do que de Deus. É necessário manter a projeção
próxima, para sentirmos que a combatemos, e que ela não faz parte de
nós.

Reconhecer a sombra interior não significa cultuar trevas, nem
tampouco ir contra a evolução. Aliás, muito pelo contrário: A questão
não é PASSAR A SERMOS obscuros, como se o EGO e o pouco que já
conhecemos sobre nós mesmos fosse excluido de tudo o que se É; e sim
reconhecer e trabalhar aquilo que JÁ SOMOS, que JÁ nos influencia,
que vem de nós mesmos e não de obsessor. Aquilo que não queremos
reconhecer, por acharmos que é feio ou mal, devido a algum valor
social.

Ninguem está sugerindo desenvolvermos um lado trevoso e anti-
evolutivo para nossa sombra. Não estamos com isso falando em ter
aversão à luminosidade, fazermos o "mal", nem abrirmos mão de valores
éticos e sociais. E muito menos trocarmos referências espirituais
integradoras pelo culto ao inconsciente e negado.

Acender vela preta, ler bíblia satânica, cultuar a morte ou jogar
Vampire não vai ajudar muito neste processo consciencial. O difícil e
necessário é encararmos aquilo que JÁ temos e sequer sabemos que
temos, e que não raro avolumou-se em nos nossos porões, que não
queremos visitar. Reconhecer isso como parte de nós, e centrar, tem
muito a ver com EVOLUIR.

Por outro lado, a religiosidade estereotipada que cultua o "bonzinho"
atrapalha: Negando, uma hora EXPLODE. E então não adianta culpar
o "obsessor", dizer que "estavamos fora de nós mesmos", ou rezar para
ver se passa. Nessa hora, se revelam o padre pedófilo, o yogue que
tem crises destrutivas de mal humor, o palestrante espírita que fala
manso com seus "diletos irmãos da seara de Jesus" mas é um terror em
casa e temido pelos filhos. É o momento da pessoa aparentemente bem
educada que desconta no primeiro comerciante que encontrar. E da
namorada "tão meiga" e de família que incontrolavelmente ataca
justamente quem ela dizia amar.

A questão é que antes disso tudo se apresentar em neuroses, temos
diversas pistas: Esta SOMBRA, enquanto crescendo, vai aparecer em
SONHOS E PROJEÇÕES, nos "perseguindo" ou nos fazendo ter contato com
o "mal" ou com o "sujo". Podem ser figuras atras de voce, monstros
medievais, bichos feios que querem te pegar, dráculas, íncubus,
súcubus, coisas gosmentas.

Muitos, ao trabalhar a sombra, vão achar que passaram a noite fazendo
projeção astral assistencialista no umbral. Mas este "obsessor" do
seu sonho pode estar muito mais próximo, e o primeiro "umbral" pode
ser o interior. Em todo caso, a própria projeção no umbral lá, ou
mesmo o assédio espiritual adquirido aqui JÁ podem ser formas da vida
lhe colocar em contato com aspectos sombrios, em contraponto.

Ou seja, é muito verdade a velha expressão de "quanto mais rezo, mais
assombração me aparece". Assistencialismo é ótimo e incentivamos, mas
notem que quanto mais "bonzinho" o projetor, quanto mais negar
conteúdos que JÁ traz em si, mais vai se projetar (mesmo) no umbral;
pelo mesmo motivo que pessoas deprimidas tem um excesso de sonhos
e "projeções" em cenários belíssimos, que compensem psiquicamente a
balança por tudo que não estão vivendo aqui.

Do mesmo modo, explicando pela ótica espiritualista, uma pessoa com
sombra enorme atrairá os obsessores de verdade, em sintonia, os quais
por sua vez a levarão a umbrais mais palpáveis. No fundo, tudo é um
só. Até mesmo quando o obsessor é um(a) chefe ou um(a) ex
materializadaos aqui.

O Robert Johnson, popularizador junguiano autor da série HE / SHE /
WE, possui também um ótimo livro sobre o conceito, chamado MAGIA
INTERIOR. É uma leitura leve e rápida, porém capaz de mudar nossa
auto-compreensão. Recomendo. Johnson fala em uma balança, que não
deve pesar demais para um lado só, sob risco de... quebrar. E o que
se quebra na psique, somos... nós.

Neste sentido, lembro também de uma frase de Jesus dizendo: "Ai de
vós, hipócritas! Por que lavam o exterior do copo, que por dentro
está imundo?"

Certamente o Mestre dos cristãos não estava recomendando sujarem o
lado de dentro do tal copo, nem fechar os olhos para a sujeira que JÁ
estava ali. Jesus nunca foi conivente com esta grande sombra psíquica
que religiões criaram na hipocrisia do "ser bom". Ao contrário, ele
era um grande questionador, sempre crítico às religiões de seu tempo,
e sabia ser duro mesmo quando isso implicava em desafiar o esperado
pela convenção social. Que os cristãos reflitam: Jesus era bom EM SI,
como estado de consciência, mas jamais recomendaria aos seus
seguidores essa pseudo-bondade estereotipada, luminosa - e hipócrita -
que "Doutores da Lei implementaram em seu nome, em tantas dioceses e
federações. E que, infelizmente, explica "sombriamente" as distorções
que minam as instituições em seu nome - embora não precisem macular a
própria mensagem evolutiva do Mestre Jesus.

Em tempo, Jung considerava o cristianismo como simbolicamente
adequado para a expressão do homem ocidental atual. Mas é bom lembrar
de que falamos da simbologia original, e que o neo-junguiano Robert
Johnson nos adverte que a pior coisa que fizeram com o cristianismo -
simbólica e psiquicamente - foi convertê-lo em um culto pseudo
luminoso, de mesas brancas ou paredes límpidas, onde não há mais
espaço para as imagens sombrias de outrora, que ritualizavam a
comunhão com "cristo" como um caminho espiritual que metaforizava o
encontro e casamento alquímico que fazemos dentros de nós.

Lázaro Freire
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