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* RELATO: Onde os Sonhos Nascem (A vida é o Amor do TODO em nós)
Publicado em: 04 de setembro de 2006, 19:33:54  -  Lido 5928 vez(es)



ONDE OS SONHOS NASCEM 

(A Vida é o Amor do Todo em nós)

Um relato de Amor, Projeção, Co-criação e Magia Mental

Por Lázaro Freire

 

 

 

Noite de domingo para segunda. Três dias "passando mal" me fizeram dormir demais no fim de semana. Depressão? Um amigo, sensitivo conhecido, me telefona, dizendo que meu estado se deve à área emocional (o que sei), a atitudes de algumas pessoas (o que não é novidade), e a pelo menos uma má intenção conhecida contra mim (não me surpreende).

Mas ele também diz o que não quero admitir: que estou assim por me recusar a erguer barreiras no campo emocional. Eu deveria ser menos premissivo com
quem "gosta de mim", e menos neutro com quem "não gosta" - para que *eu* possa gostar de mim, e permitir ser gostado no complexo e indireto jogo que as pessoas criam para se relacionar.

 

Reconheço que não sou de erguer muitas defesas. Quem, em amando, as tem? E assim, refletindo sobre limites e emoções, e a paradoxal necessidade de couraças emocionais mínimas no intuito de me manter produtivo espiritualmente enquanto na terra, vou fazer, então, as defesas das quais me descuidara; em práticas, preces e meditações. O efeito vem logo, em bem estar, confirmando a natureza psicosomática de meu mau estar. Adormeço, em paz.

Tendo dormido tanto no final de semana, acordo completamente sem sono durante a madrugada. Há algo difícil de explicar que chamo de "silêncio astral" - onde o tempo parece parar para a plena consciência do aqui-agora - e meu quarto tem este saudável vazio, como há tempos eu não sentia. Efeitos da defesa. Como explicar essa experiência mística, o enxergar do Todo no Nada, a companhia de toda a humanidade na solidão?? Agora há paz, há silêncio, há vazio, e me uno, comigo e com Deus. É o melhor cenário possível para uma prática projetiva.

Nesta condição, não penso sequer em "técnica". A harmonia entre corpo, mente, energias e consciência me faz perceber que, há um ponto de equilíbrio em que sair do corpo é tão natural quanto permanecer. Não há divisão nas realidades. A mente silencia, e não há "barulhos" internos puxando o cabo de guerra em várias direções. Reflito que sair do corpo pode ser muito mais natural do que parece - se pudessemos NÓS parecermos também mais naturais.

Deixo o corpo, sem dificuldades. Nenhuma técnica, a não ser a intenção. Quase imediatamente após os primeiros exercícios, mais de harmonia do que de saída, já sentia presenças espirituais. A noite toda passou em um continuum de consciência ativa, sem eu sequer perceber saídas, tempos, reencaixes. Até olhar pela janela e perceber que era manhã, sem ter notado o tempo passar, nem poder dizer quantas vezes acordei e reprojetei. Como se fosse tudo uma única experiência só.

No começo, ligo-me aos amparadores. Logo em seguida, sem perceber adormecer nem sair, me vejo, consciente, em um cenário paradisíaco. Uma região de lagos e jardins, nas cercanias de alguma "cidade" astral, num cenário que o Solo Sagrado lembraria muito vagamente - entretanto, tudo era muito mais grandioso, tranquilo e integrado, por ali.

Impossível não observar o céu, de um azul que não encontra equivalência aos da terra. No céu anil intenso, nuances de índigo e violeta se refletiam, sem perder contudo a luminosidade do céu azul. O céu não se tornava mais escuro por ter tons associados ao sexto e sétimo chakra, às cores mais extremas do espectro luminoso. Mas a nuance da cor estava lá.

Difícil explicar estas cores que na Terra são escuras, mas que lá são claras. O que eu poderia dizer é que para algo ser visto como índigo ou violeta aqui, ela precisa reter luz, e ser percebida como mais escura e fria do que o azul anil, amarelo ou vermelho conhecidos, por exemplo. A sensação que tenho para estas cores "lá" é que elas são da mesma natureza das terrenas, sem precisar reter a luz. Na impossibilidade de descrever com palavras, rendo-me dizendo que era simplesmente lindo e pleno demais.

O contraste dos jardins próximos, mais floridos; do verde escuro azulado do lago enorme, perdendo-se em curvas entre montanhas que lembravam ao mesmo tempo Minas Gerais e Europa, mais adiante; do verde intenso das árvores, abundantes, que fechavam como floresta as outras margens do lago, cobrindo a montanha; e por fim o céu ao mesmo tempo azul anil, índigo e violeta, só podiam causar um único efeito: calar a voz, calar a mente, e forçar a contemplação.

Não sei como explicar, mas o cenário era de tal modo deslumbrante que a única sensação que se podia ter era a de ser pequeno; mas não no sentindo pejorativo, e sim num contexto de estar, de algum modo, fundido aquilo tudo. De algum modo, sei que minha vontade de existir faz com que aquele azul do céu exista - e, talvez, o contrário também.

Por um instante, penso na natureza das coisas, no maya (feito de, em sânscrito), de tão claro que me parece ser eu feito da mesma beleza que faz aquele cenário existir. Ainda contemplando, penso, projetado, que eu deveria falar sobre isso no meu curso de Magia Mental, que preparo para o mês que vem (Nov 2004) no IPPB, justamente tentando falar do encontro das águas que faz com que a matéria astral de plasme que consideramos real, e no que faz o mundo existir.

Entretanto, a beleza do lugar faz meu chakra cardíaco literalmente expandir. Aquela sensação de amor, de estar com quem se ama muito, quando o coração parece que vai sair para fora. Como se algo no centro do peito inflasse, quisesse abarcar o mundo, e gritar para ele que se está em comunhão com o todo, e que este todo é Amor. É o suficiente para calar minha mente, e me colocar, de novo, além dos cursos a dar no físico, uno com a beleza daquele único lugar.

Penso, comigo, que lugar pode ser aquele, tão belo assim. Onde eu estaria? Que nome eu poderia dizer, ao relatar, sabendo que todos seriam imprecisos, e que talvez aquele lugar, tão uno com o todo, sequer pudesse ser um "lugar"? Enquanto a pergunta se desenha em minha mente, "ouço" uma voz, telepática, pouco "atrás" de mim, respondendo brincando, de forma firme e doce a pergunta que não cheguei a formular:

- Você está no lugar onde os sonhos nascem.

Surpreso, me virei, e encontrei um amparador que já vi apresentado como hindu, porém usando aqui roupas normais. Ao seu lado, alguém que eu não confundiria com apenas ânima nem aqui nem onde os sonhos nascem: Simone "Mony" Andeglieri, companheira de tantas projeções, e de algumas coisas mais.

É importante relatar que, embora o amparador e a Mony exercessem, por vezes, funções de self e ânima, e os cenários por vezes se tornassem oníricos, a consciência do processo deixava claro a mim, projetor experiente, da presença de suas consciências. Não tenho dúvida da natureza projetiva da experiência, embora eu considere natural que, assim como ocorre até mesmo no físico, as pessoas com quem interagimos possam expressar, também, a expressão arquetípica que representam em nossas vidas - o que no astral ocorre, como é de se esperar, até bem mais. Daí, não ser tão importante assim, em alguns contextos, diferenciar sonho de projeção. Mas, registre-se, tenho consciência da porção projeção desta experiência de domingo.

O amparador, ao mesmo tempo familiar e anônimo, me injetou idéias diretamente na mente, referente ao meu curso. De algum modo, entendi que em parte eu estava ali em função da preparação do material que eu iria ministrar. E entendi que a Mony (que na noite anterior eu havia visto em outra condição, não tão harmÔnica assim), havia sido trazida ali para aprender junto. Não entendo agora o processo, mas no momento, me parecia a coisa mais natural do mundo ela precisar ter pelo menos algum contato com o que eu estava estudando, e vice-versa. Bem, pelo que entendi, eu estava ali pelo curso, e a Mony estava ali por mim. Era necessário que o aprendizado se desse nos dois lados, feminino e masculino. Talvez a função ânima. Talvez não.

Nestas horas, que antigamente ocorriam muito no físico e no projetivo, eu a costumava chamar a Mony de Animôny, de tão sem limites que as "realidades" se tornavam, em sincronicidades e arquétipos. Nesta projeção, também, e não saberia distinguí-las, e portanto vou chamá-la assim.

A partir daí, o amparador dirigia-se a mim e à Animony (entenda como ânima ou como a Mony se preferir - eu, para mim, não tenho dúvida de que as duas estavam ali) como duas linguagens para uma mesma compreensão. Dois alunos, cada um com seu estilo, masculino e feminino, que precisavam unir suas partes para uma compreensão maior, alquímica, unica, a qual a mera experiência dividida não seria capaz de abarcar, face ao todo que se descortinava diante de nós.

E por falar nisso... Que todo!!! Com sensação de adolescentes, nada de sexual neste momento, "alminhas" como costumavamos nos chamar, a animony me deu a mão, e, excitada como criança diante de um parque de diversões maravilhoso, me puxou para pouco mais abaixo, perto do lado, numa reação feminina e infantil que eu, naquele momento, não teria apenas por mim. Senti o complemento da animony fazendo sua função, me puxando para junto das águas cristalinas (bastante simbólico), propiciando uma sensação de fusão com o todo (self?) representado por toda a paisagem.

( Ei, animony - penso eu, em momento bem humorado, analisando o sonho dentro do sonho - se vai bancar a Trinity em Matrix 3, e me puxar para o casamento alquímico antes de "morrer", vê lá se não vai furar meus olhos, tá? Aquilo era só uma metáfora para dizer que o Neo era guiado pela ânima antes de se fundir a ela, e depois a aceitar e incorporar sua sombra Smith, para por fim individuar unindo-se ao todo, ao Self de Matrix - não precisa literalmente me deixar sem ver, hem? :-)

O "amp" nos chama, após nos dar alguns minutinhos nos alimentando daquele "todo" que parecia ser respirável no ar que soprava vindo daquela paisagem indescritível. Como alunos em primeiro dia de aula prática, atendemos, com brilho intenso no olhar.

- Observem o céu.

Começamos a observar, ainda com os olhinhos brilhando, feito duas crianças.

- Sejam o céu!

Desta vez, foi com voz de comando. Os olhos brilharam diferente, úmidos, vivos, mas não tão despretensiosamente inocentes como antes. Não sei como explicar, mas após a ordem doce, nossos olhos passaram a ser um microcosmo daquele céu. Nossos olhos eram - eu podia sentir - azuis, índigo e violeta como aquele céu, e dentro de nossos olhos estavam também cada nuvem ou pássado que houvesse naquele céu. Um instanta após termos, ambos, esta compreensão, a magia recíproca se operou, e de repente, eu podia sentir que toda a abóboda celeste, azul índigo e violeta, eram apenas nossos olhos. E não havia diferença entre meus olhos o os da animôny, então. Os olhos, o céu - e os sonhos que nascem ali - eram um só.

Enquanto eu e animôny estavamos numa espécie de transe fundido ao todo, numa espécie de mini samadhi cardíaco com o local, o instrutor nos sugeria, sem palavras, movimentos com os braços. E ao mover os braços, senti que eles sentiam o vento, e que o vento ali era harmonia, e havia uma espécie de música não tocada no seu sussurrar. Mover os braços, naquele momento, era dançar, ao som da melodia presente em tudo, vindo talvez de outras esferas, que só agora eu percebia estar vibrando o tempo todo naquele lugar, mesmo quando eu não tinha ouvidos para percebê-la. E que provavelmente está tocando à sua volta, enquanto me lê.

A medida em que eu e animôny moviamos os braços, no "ritmo" da melodia que a brisa parecia entoar, eu podia notar que algo ocorria também naquele céu. Era como se algumas colunas de ar, algumas dezenas de metros acima, se movessem levemente. Dava para perceber uma diferença na translucidez do ar. Olhei para a anomôny, e ouvi ela dizer, como voz de nenem, um mais que familiar:

- Lá, ólhááá! Quiiii "lêga", né????

Tentando "controlar" onde os "ventos" surgiam (e desapareciam a seguir) seguindo a dança de nossas mãos, concordei. Era um brinquedo muito bom... Em minha mente, fichas iam caindo sobre a fusão que eu presenciava. Entendia que a matéria ali era exatamente como a daqui do físico, mas que naquele cenário mais volátil, harmônico, assistido, de outra natureza vibracional, eu tinha outras condições de plasticidade. Mas entendia perfeitamente que tudo que eu e animôny experimentavamos ali podia - e devia - ser ensinado, como essência das coisas, num curso que pretendesse unir magia, vontade, maya e astral.

Compreendendo que o que eu treinava ali era o mesmo que faziamos aqui, ou o que os magos - nas diversas metáforas para a palavra mago - tentavam provocar, fui tomando consciência de nosso poder. Já conseguia ver, no céu, o reflexo que quase todos os pensamentos e gestos que comandava com a vontade. Notei que os espectros das minhas correntes de ar eram visíveis. Sem precisar esforçar-se tanto quanto eu, nem teorizar tanto, a animôny simplesmente olhou para mim, viu como eu fazia, e no instante seguinte fazia igual. Mulheres...

Quando nos sentiamos "os" magos, "os" poderosos, o amparador nos pediu para observá-lo um pouco, após ter dado bastante tempo para que brincássemos. E então, ele mostrou o que esperava que fizéssemos. Movendo os braços, ele fazia verdadeiros rios de ectoplasma (na falta de outra coisa para comparar) se mover no céu. Minha corrente translúcida ficou humilhada... E eu que já estava me achando poderoso por gerar algum efeito parcialmente visível, ainda que num céu astral! Nunca conseguiriamos um efeito daquele, pequenos rios leitosos aparecendo e desaparecendo por quase 1 segundo no céu, a dezenas de metros de altura, a partir de um simples mover de braços...

- Façam igual!

Quando amparador "pede" com voz de comando, você fica se perguntando
se existe mesmo o tal do livre arbítrio. O fato é que mal deu tempo de eu e animôny movermos a cabeça, autômatos, concordando com ele, e antes de pensarmos se podiamos ou não, lá estavamos nós, fazendo algo, digamos, err, igual. Pelo menos na intenção.

Mais e mais alto, nossas massas energéticas chegavam à altura das nuvens. O amp nos sugeriu então, mentalmente, que usassemos aquilo para remover as pequenas nuvens que haviam no céu, o que nos rendeu um bom tempo de diversão, algumas boas risadas, e bastante aprendizado, também.

Ao retornar, o amparador me encontrou, teimoso, tentando mover umas nuvens mais altas e pesadas que haviam ao longe. Curiosamente, a tentativa, inócua, me deixava ligeiramente cansado. Foi a vez dele rir. Imagino porque. Enigmático, mas talvez nem tanto, disse sorrindo algo como:

- Calma. Antes de aprender a mover cargas assim, compostas por tantas e tantas nuvens somadas, você precisaria aprender a fazê-las, ou seja, compreender de que são feitas, como se formam, e como se vão. Há o que demanda mais tempo, o que demanda mais estudo, e o que demanda mais que um...

E nos convidou a passear por outros cantos do local, tão ou mais esplendorosos, para conhecer, antes do nosso tempo ali, projetados, acabar. Em outros jardins, haviam verdadeiras praias rasas, de areias claras, quase que artificiais.

Caminhando com a animôny nesta praia de águas cristalinas e areias brancas, com os pés descalços, água clara e morna na altura do tornozelo, sol refletindo na pequena enseada entre morros, tivemos um pequeno diálogo antes de nos despedirmos conscientes, claramente tracionados (juntos) pelo cordão de prata. Não lembro bem de todas as palavras, mas era algo mais ou menos assim:

- Que lindo, né, Lá?


- Sim, cairam tantas "fichas".

- Você viu? Ele disse que aqui é "onde os sonhos nascem"

- Sim, é uma metáfora, né? Acho que tem a ver com a matéria astral que pode dar origem a vida, algo que esteja nas moléculas de Maya. Ele estava nos demonstrando como é feito o mundo...

- E além de ser tudo tão bonito, ainda nos ensinaram o sentido da vida. Pensa!!!

- Ei, Mony, isso eu não aprendi não!!! Eu estava tentando questionar o que seriamos nós no meio disso tudo, a partir do que vivemos aqui, para poder passar no meu curso. Como assim? Ele te ensinou outras coisas antes?

- Não, cheguei aquela hora também... Vim por causa de você.

- Então como assim? Qual o sentido da vida, então? Onde está isso aqui?

E ela, me mostrando o todo, me fez novamente o cardíaco expandir, e outra vez, contemplando, tive a sensação de que meus olhos eram a abóbada celeste, e que eu estava no mesmo todo que estava em mim. E antes do meu peito voltar ao normal, ainda em comunhão com o mini-samadhi que aquela última visão que guardei do "lugar onde os sonhos nascem", ouvi as últimas palavras da animôny, com força de voz de comando de amparador, me explicando e fixando para sempre, em meu coração, a letra da música que o vento cantava o tempo todo, e nem ali eu havia sido capaz de escutar:

- A vida é o Amor do Todo em nós.

 

 

 

( Escuta, leitor... O amor que gera a vida está cantando no vento que sopra aí também. Será que você pode escutar? ;-)


--
Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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