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>> Colunistas > Lázaro Freire Inferioridade, Superioridade, Relacionamentos e Comparações - Qual a melhor terapia? Toda psicoterapia cura? Publicado em: 08 de abril de 2011, 11:11:47 - Lido 4671 vez(es) > Perguntaram em http://formspring.me/LazaroFreire > Estou todo atrapalhado na vida (tenho 34 anos). Não paro em um emprego por mais de um ano (há 10), não tenho muito tempo ou dinheiro e sou hiper-autocrítico comigo mesmo, sinto-me inferior e pressionado o tempo todo. Que terapia(s) poderia tentar? Seu caso sugere, independentemente de quaisquer diagnósticos, uma dificuldade de relacionar-se consigo mesmo e com os demais. Inferioridade e superioridade só ocorrem a partir da comparação. O inferior se compara, e na verdade gostaria de ser maior. O narcisista, megalomaníaco e superior se compara também, e na verdade pensa ser menor, por isso cria a fantasia de grandeza. O Híper-autocrítico também se cobra porque exige um desempenho diferente dos demais. São todas psicodinâmicas oriundas da distorção da COMPARAÇÃO, que só ocorre quando há dois ou mais. Ou seja, os "relacionamentos" internos e externos estão distorcidos. Faz sentido para você? Em um caso assim, qualquer linha séria com a qual se identificasse poderia ajudar. Até algumas não tão sérias poderia ajudar em casos assim. Algumas linhas são mais especializadas e eficientes em algumas camadas da psique, outras em certos casos, mas TODAS ELAS tem em comum aprofundar o relacionamento verdadeiro, no caso entre o analista e o partilhante. E relacionamentos sinceros, íntimos e constantes CURAM. O partilhante / analisando / "paciente" não tem outro inconsciente para trazer para a sessão a não ser o dele mesmo. Por mais máscaras que tentasse apresentar ao terapeuta no plano da aparência / consciente, ao se aprofundar nas sessões estabeleceria também um RELACIONAMENTO, e nesse relacionamento inevitavelmente o seu inconsciente começaria a atuar, sem que ele percebesse. EXEMPLOS: Alguém que não cumpre seus compromissos começará a faltar, ou a atrasar pagamentos, mesmo que não queria. Alguém que não valoriza os demais pedirá descontos que não precisa, ou tentará tirar vantagens no horário da sessão. Alguém mais refratário mostrará esse temperamento, mais cedo ou mais tarde, resistindo a análises óbvias. Alguém muito condescendente acabará concordando fácil demais com interpretações profundas e impactantes, às vezes como forma de não precisar praticar o que a análise sugere de mudança. Pessoas agressivas mostrarão isso, direta ou indiretamente, nos diálogos. E as que tentam levar a vida seduzindo, direta ou indiretamente, tentando ser agradáveis ou bonitas para se livrar das regras, acabarão fazendo isso também nas sessões - indireta ou diretamente. Dentre inúmeras outras possibilidades. Os controladores e obsessivos são os mais óbvios de todos, já chegam nas clínicas psicanalíticas ou consultórios médicos querendo dizer o que tem que ser feito, tentando mudar as regras, descumprir, adiar, alterar frequências e pagamentos, discutir suas qualificações, explicar para o médico / terapeuta o que ele tem, fazer a interpretação / análise ANTES do profissional (vai que ele dizemos algo que ele não queira ouvir, né?). Os carentes tentam encerrar o tratamento a cada vez que você não dá minutos extra na sessão, ou quando não encontra horários de excessão, ou quando você desconstrói alguma de suas fantasias. O inconsciente está atuando o tempo todo na sessão, e se o analista está preparado para INTERPRETÁ-LO, as formações infantis acabam sendo modificadas, para melhor, refletindo também fora dali. Psicanalistas e junguianos são reconhecidamente os mais treinados para identificar estas atuações transferenciais, mas mesmo que seu terapeuta não tenha técnica própria para manejo disso, a "terapia" precisará lidar com os efeitos disso. Se não há outro inconsciente para ser trazido à clínica senão o do próprio partilhante, o fato dele estar o expondo e trabalhando em sessôes contínuas e coerentes, onde suas regressões infantis não passam desapercebidas, faz com que este inconsciente se modifique e seja levado aos poucos para FORA do setting analítico. Se ele só pode trazer o inconsciente que tem, ele inevitavelmente leva da relação analítica um inconsciente contínua e progressivamente um pouco melhor. Por fim, mas não menos importante, muitas vezes, a relação analítica é a PRIMEIRA relação verdadeiramente sincera e profunda que a pessoa tem na vida, em que realmente dedique horas olhos nos olhos para profunda compreensão e melhora de si mesmo a partir da interação a dois, e a primeira em que realmente esteja disposto a mudar. ISSO CURA. Isso coloca a pessoa em contato com o núcleo saudável de sua personalidade, que por si só já contém, nas profundezas da alma, os elementos da própria pessoa para a cura que ela mesma desejou ao nos procurar. Portanto, TODA psicoterapia séria, profunda e verdadeira funciona. Mesmo as mais superficiais e alientantes, que apenas focam em mudanças rápidas de comportamento e pensamento, sem aprofundar suas cauas. Se além de tudo isso for uma linha que consiga dar conta de seus transferências em sessão, tanto melhor. Lázaro Freire Psicanalista Transpessoal Pós-Graduando em Counseling Psychology Filósofo e Professor de Filosofia Especializado em Filosofia da Religião e manejo clínico da experiência espiritual http://voadores.com.br/clinica -- Lázaro Freire lazarofreire@voadores.com.br
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