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>> Colunistas > Benedicto Cohen (Bene) Os Sonhos e o Inconsciente Publicado em: 04 de setembro de 2006, 15:32:50 - Lido 3631 vez(es) Andei falando sobre a influência do Inconsciente nos sonhos e sobre interpretação junguiana de sonhos, então resolvi colocar mais algumas informações sobre isto, para esclarecer um pouco o assunto. Não sou psicólogo, mas hoje em dia um xamã precisa conhecer também um pouquinho de Freud e Jung, além de brujeria y otras santerias, não é mesmo? O material é baseado em Marie Louise Von Franz * * * Muita gente ainda acha que os sonhos expressam nossos desejos e as tramas que armamos inconscientemente. Mas não é assim. Uma grande parte de nossos sonhos diz coisas que não queremos ouvir. Os sonhos parecem se originar da própria Natureza, tal como os animais ou as árvores. Não podemos criar nossos sonhos, assim como não podemos ?criar? um animal. Assim, é melhor imaginá-los como se fossem criados por Deus ou pela Natureza, sem prendê-los a alguma coisa específica. Mas se acompanharmos nossos sonhos, perceberemos certas qualidades nos mesmos. Os sonhos possuem uma inteligência superior, sabedoria e perspicácia, que podem nos servir de orientação. Os sonhos podem nos revelar idéias artísticas ou criadoras, diretamente brotadas do inconsciente (que é a parte de nossa mente à qual não temos acesso direto, mas apenas através de sonhos, meditações, etc). Assim, parece existir dentro de nós uma matriz psiquíca capaz de produzir novos insights criativos. Esta matriz parece orientar o ego (nossa parte consciente, o nosso eu comum) para que este tome atitudes condizentes com a situação que estamos vivendo no momento. Graças a estas ?mensagens? recebidas podemos aceitar idéias difícieis, como as de velhice e morte, por exemplo. Esta matriz que engendra os sonhos tem sido chamada de guia espiritual interior, centro da psique, ou simplesmente Deus. Buda dizia que quem segue o caminho interior tem sonhos bons, cuja recíproca significa que seguir as orientações vindas deste centro divino melhora a vida do sujeito. Alguns sonhos são muito claros e fáceis de interpretar. Por exemplo, se minha empresa não vai bem e eu sonho estar afundando lentamente numa piscina de lama ou de coisa pior, a coisa é bem clara. E se no meio dessa piscina aparecer alguma coisa para eu me segurar, é melhor eu prestar bastante atenção naquilo que me deram como tábua de salvação no sonho? Ou seja, algumas vezes o inconsciente nos fala tão diretamente como um professor ou um mestre fariam. Outras vezes ele nos fala por meio de símbolos, alguns dos quais existentes a milhares de anos entre os homens, e que às vezes aparecem em antigos mitos perpetuados pela humanidade, ou até mesmo tirados diretamente da Alquimia. São os arquétipos. Um sonho pode repetir a história de Medéia, por exemplo, sem que a gente nem sequer saiba quem foi essa senhora. Contudo, por mais bem informados que sejamos, nem sempre é fácil a pessoa interpretar seus próprios sonhos. Os sonhos costumam tocar nosso ponto cego. Nunca dizem aquilo que já sabemos, mas sim aquilo que não sabemos, e os componentes apresentados em linguagem simbólica dificilmente significam exatamente aquilo que estamos vendo. E muitas vezes nem vão significar aquilo que achamos que significam, pois vamos tentar interpretar a coisa sob uma ótica confortável para nós. Nos sonhos, por exemplo, matamos e morremos impunemente, fazemos coisas que jamais faríamos despertos, simplesmente pelo fato de não estarmos ?matando? aquela pessoa, mas sim estarmos matando uma característica daquela pessoa que ?sabemos? possuir também (mas que conscientemente nos negamos a reconhecer) e que detestamos em nós mesmos. O envolvimento com sonhos é em geral salutar. Entretanto, o mundo onírico só é benéfico se estabelecemos diálogo com ele, mas sem abandonar a vida real. No momento em que a pessoa começa a ignorar a vida exterior - o próprio corpo, alimentação, trabalho - o mundo dos sonhos se torna perigoso. Esse aspecto da dominação pelo inconsciente é chamado, na linguagem junguiana, de ?mãe devoradora?. * * * Bom, em cima disto, dá para a gente tecer algumas idéias também sobre a projeção. Este último parágrafo, inclusive, me pareceu bem aplicável à mesma. Jung acreditava em projeções e desdobramentos, mas não fazia uso das mesmas para análise. Ou melhor, procurava enquadrar tudo como sonho. Seu material de análise era o sonho, apenas. Provavelmente se um de nós contasse a ele uma de nossas projeções, ele a analisaria como um sonho comum, ou tentaria tirar material analisável dali. E o mais interessante é que provavelmente encontraria analogias entre nossas projeções e aquilo que acontece em nosso inconsciente. Alguém já disse que um esquimó dificilmente encontraria um amparador hindu, mas sim um amparador de sua raça, assim como um tibetano encontraria um avalovara ou coisa assim. Nós, aqui no Brasil, além de orixás e santos cristãos, temos recebido desde os anos setenta muita influência da cultura indiana e budista, o que explicaria muita coisa que ocorre em nossas projeções. Mas ainda não é aí, só em amparadores, que eu queria chegar. Se imaginarmos, como os junguianos fazem com os sonhos, que nossas projeções procedem da tal matriz psíquica, ou seja, que são coisas novas para nós, assopradas ?de fora? para ?dentro?, seria curioso imaginar se cada indivíduo não atrai então o tipo de projeção que seria útil ou possível para ele, em termos de condições atuais, perspectivas de evolução, etc. E se sendo assim, se nossas projeções não teriam muitos componentes de nossos anseios, nossos desejos e medos secretos, ou seja, muita coisa do nosso inconsciente, misturadas com os serviços ou desserviços que estaríamos prestando por lá. Tipo, será que já que estamos lá, não usamos a projeção para troca de informações desse tipo com nós mesmos, além de qualquer ajuda que possamos estar prestando por lá? O pessoal, ao rememorar suas viagens, costuma preservar aquilo que era de interesse direto para o enredo da aventura, e simplesmente descartar o resto, dizendo: ?Ah, aquilo foi onirismo misturado?.? Mas será que o tal onirismo que pinta nas projeções não mereceria ser muito respeitado e analisado à parte, como ferramenta de auto-conhecimento? Bene Que encontrou em sonhos um baratão fumando narguilé, sentado em posição de lótus em cima de um livro de sutras, de onde saiam figurinhas carregando maletinhas verdes, e está tentando analisar esse sonho? Será que Vc pode ajudar? -- Benedicto Cohen (Bene) beneluxbr@yahoo.com.br
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